Palavreando
Monday, July 11, 2011
Friday, May 6, 2011
Maria Melo
Charneca em Flor
Eu vi desabrochar as belas flores
Em campos perfumados de lilases
E vi a fenecerem os amores
Nas veias dos amantes mais audazes
Que já não há flores na Primavera
Daquelas que coloriam a charneca
E a boca vai secando enquanto espera
A seiva do teu corpo que em mim peca
Eu já não colho flores em meu braçado
Mas desse tempo bom ainda lembro
Teu rosto, tão feliz, enamorado
A ver essa charneca a meu lado
Fazendo a Primavera em Setembro
Num gesto de meiguice, enfeitiçado
No Livro AO ENCONTRO DE FLORBELA
Maria Melo
Henrique Ribeiro
ELISABETE
Uma torrada sem manteiga,
mas com sabor a ovos frescos.
Dois olhos sem brilho, mas com rimel.
Duas mãos calejadas e gretadas da lixívia.
O cigarro no canto da boca,
a cinza formando montículos
de esperança derretida, como neve ao sol.
Vestidinho arranjado, maneiras indiferentes.
Mas, no canto do olho, assimilando os pormenores.
Alguns minutos, poucos, de abrandamento de tensão.
Dois dedos de conversa, que o homem até é simpático.
Riso despreocupado, que o homem até tem piada.
Mas, a realidade volta a impor-se bruscamente.
A sombra regressa aos olhos que perdem o brilho.
O sorriso extingue-se, languidamente.
A bata verde cerceia sonhos.
O esfregão tolhe voos maiores e a lixívia, pouco a pouco, lava a esperança.
Mais um dia.
Antecedido de outros, procedente dos que virão.
Iguais.
Tal e qual.
Com a novidade de um sorriso, diferente, ou uma nova maneira de dizer BOM DIA.
Henrique Ribeiro
Do livro
Mulheres de Um Tempo Inexistente (1989)
Subscribe to:
Posts (Atom)